segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Retrato de família




Meu pai era homem serio, sisudo, não digo brabo por que mais que isso, era reservado.Olhos verdes e tristonhos que muito deram trabalho antes de conhecer minha mãe.Mas era cheio de vida, um colecionador de histórias.

Por vezes varava a madrugada em meio è lua cheia e churrasco a fogo de chão contando das proezas que tinha realizado na época da construção da estrada nova.

- Era gente xucra sianinha, mas sem nenhum temor!

Contava histórias, de bicho, histórias de gente e por vezes até histórias de assombração.

- E num é que o tal vulto vinha vindo Sianinha, numa carreira desordenada de embranquecer até caboclo descrente. Puxei da garrucha e quando disparei o vulto sumiu no vento!

E logo passava pra outra.

- Pois tava eu Sianinha caminhando pela quermesse quando de repente me deparei com a criatura mais bonita que já vi, de tão linda parecia pintura!

Segurava nas mãos uma flor e quando me aproximei indaguei: - Flor bonita! É natural ou artificial?

Ela cismou pra mim um olhar brabo e respondeu: - Nem um nem outro, é de papel.

E bateu carreira em direção à igreja. Desde aquele dia minha vida mudou Sianinha, desde aquele dia minha vida mudou...

Dentre todas as outras histórias essa era a preferida de meu pai. Era sobre o dia em que conheceu minha mãe.

Ah, Minha mãe!

Sinhá pequena de anca larga, braba igual o quê.Não havia o que se comparasse. Era carola da irmandade do rosário, mas dona de uma alegria sem tamanho.

Em maio me punha vestes de anjo e saía toda prosa pro mercado.

- Viu Carminha!? Minha filha esse ano é quem põe a coroa de nossa senhora. Véu é respeitoso, palma tem lá seu valor, mas bonito de ver é mesmo a coroa. Sino toca, padre benze, quem põe a coroa em nossa senhora reza duas vezes!

E eu sem entender muito daquilo, achava era divertido o vento bater nas minhas asas enquanto corria pelo pátio da igreja.

- Sianinhaaaaaaa!! Volta aqui menina!

Como já disse minha mãe era um exagero de braba. Comia pelo meio as palavras e se tinha uma coisa que ela não gostava era de me ver desordenada.

Passava horas a fio desembaraçando meu cabelo, dividia em dois molhos e prendia com chiquinha, depois me acarinhava e dizia:

- Ta bonita minha menina!

Eu não entendia o por quê de tanta firula. Afinal ia perder as fitas na correria mesmo!

Logo mais tarde vim a entender que era o jeito que ela tinha de gostar de mim.

Quando fiz sete anos nos mudamos pra cidade. Lá conheci muita gente, conheci primeiro amigo, primeiro namorado e conheci também Sô Figeno. O pipoqueiro da igreja.

Sô Figeno me chamava de mulata.Descia a rua com seu carrinho de pipoca e gritava:

- ôh mulata!!! Mulata.

Que diabo de palavra era essa que não conhecia e me soava tão estranho?! Também, quem com sete anos haveria de saber?!
Pra mim, devia ser algum tipo de remédio de pulga. Será que o sô Figeno me achava com cara de pulga?

Bem, devia ser. Baixinha, pretinha, atarracada como minha mãe.

Taí, eu era uma pulga de nome mulata, comendo pipoca e saltitando quintal afora...

Coisa que reafirmo, deixava minha mãe pelas tamancas.

- Criança é assim mesmo Virginia. Amenizava meu pai.

- Criança dos outros, a minha tem que andar na linha! Retrucava minha mãe.

Não tinha casal mais respeitado que eles. Nem filha mais cheia de orgulho como eu na minha primeira comunhão.

O pai, me deu de presente um anelzinho de prata, que durante muito tempo foi minha única jóia.

Pouco depois meu pai adoeceu. Minha mãe largou mão da obrigação com a casa e bateu sentinela dia e noite no beiral da cama.

Vez ou outra eu aprontava alguma pra trazer pra mim a atenção de minha mãe.

Nada adiantava não, minha mãe era puro sofrimento.

Dias depois, acompanhei minha mãe em silencio, vestida de preto até o derradeiro adeus de meu pai.

Foi aí que de menina passei a moça e de moça passei a mulher e desde então a vida mudou de tom.

Ainda me lembro com alegria, ainda me lembro quando chove. E meu Deus, se o que aprendi com eles é o que é ter amor, eu quero isso sim e em larga estima!

sábado, 6 de novembro de 2010

http://www.youtube.com/watch?v=S1IhbsKWYdM

Pois essa é minha história, um começo, de onde eu vim!!! Também!!!!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

NO fundo do meu quintal tem palavras azuis!